terça-feira, 7 de novembro de 2023

Existe uma Relação entre Psicologia e Religião? Existe uma Psicologia Cristã?




Apesar de ter sido padre e ter solicitado minha suspensão do ministério em 2011, que só foi concedida em 2013, continuo sendo um Católico e mantenho minha fé. No entanto, tenho me deparado com certa perplexidade ao ouvir alguns colegas afirmarem: "Sou psicólogo cristão". Isso me leva a questionar o que essa afirmação realmente significa. É possível ser um psicólogo cristão? Ou será que o papel do psicólogo é atender seus pacientes com empatia, sem camadas de preconceito, e estar aberto ao caminho que cada indivíduo escolhe livremente, sem julgamentos?

Inicio este artigo com a afirmação do CFP (Conselho Federal de Psicologia): 

    "Não existe oposição entre Psicologia e religiosidade, pelo contrário, a Psicologia é uma ciência que reconhece que a religiosidade e a fé estão presentes na cultura e participam na constituição da dimensão subjetiva de cada um de nós. A relação dos indivíduos com o “sagrado” pode ser analisada pela(o) psicóloga(o), nunca imposto por ela(e) às pessoas com os quais trabalha."


Minha reflexão parte dessa indagação fundamental: existe uma relação intrínseca entre a Psicologia e a Religião?

A interação entre Psicologia e Religião é um tema complexo e multifacetado que tem intrigado acadêmicos, profissionais da saúde mental e teólogos ao longo dos anos. A relação entre esses dois campos de estudo, apesar de suas diferenças aparentes, é um território fértil para a reflexão, a análise e o diálogo. Este texto científico e analítico busca explorar essa relação sob a perspectiva de uma psicologia laica, plural, dialógica e científica, que valoriza a liberdade de crença e a busca do conhecimento.

  1. Não Existe Oposição entre Psicologia e Religião

A crença de que a Psicologia e a religiosidade são opostas é frequentemente desafiada por acadêmicos e profissionais que reconhecem que a religiosidade e a fé desempenham um papel significativo na cultura e na dimensão subjetiva de cada indivíduo. A Psicologia, como ciência, não busca impor crenças religiosas, mas sim entender como a religião influencia o comportamento humano, as atitudes e os aspectos psicológicos. Assim, a Psicologia pode analisar a relação dos indivíduos com o "sagrado", sem impor suas crenças às pessoas com as quais trabalha.

  1. Psicologia Cristã e Psicologia Laica

A ideia de uma "Psicologia Cristã" levanta questões sobre a influência das crenças religiosas no exercício da Psicologia. Enquanto alguns profissionais podem integrar sua fé na prática da Psicologia, é fundamental que o espaço terapêutico permaneça laico, plural e científico. O terapeuta deve respeitar todas as comunidades de fé e, igualmente, a ausência delas, criando um ambiente em que os pacientes se sintam à vontade para expressar suas crenças, ou a falta delas, sem julgamento.

  1. Religião e Ética na Psicologia

A religião desempenha um papel vital na vida das pessoas, influenciando seus comportamentos, valores e padrões éticos. A Psicologia, por sua vez, é uma ciência que busca compreender o comportamento humano por meio da observação científica. Embora essas abordagens possam parecer divergentes, a religião pode fornecer uma rica fonte de significado e simbolismo que ajuda a entender a personalidade humana. No entanto, é importante ressaltar que a Psicologia não se baseia em crenças religiosas, mas sim na pesquisa empírica e na observação científica.

  1. A Importância da Religião na Compreensão da Personalidade

A religião desempenha um papel essencial na formação da personalidade humana, uma vez que é uma produtora de símbolos e significados. Ela fornece estruturas e orientações éticas que moldam a maneira como as pessoas se relacionam consigo mesmas, com os outros e com o mundo. Ao entender a influência da religião na formação da personalidade, a Psicologia pode fornecer insights valiosos para a compreensão do comportamento humano e a promoção do bem-estar psicológico.

Concluindo, a  relação entre Psicologia e Religião é complexa e multidimensional, e a perspectiva de uma psicologia laica, plural, dialógica e científica é fundamental para manter a integridade de ambas as áreas. A Psicologia não busca impor crenças religiosas, mas sim entender como a religião afeta a mente humana. É importante respeitar a liberdade de crença e criar espaços terapêuticos inclusivos que considerem a diversidade de perspectivas religiosas e não religiosas. Essa abordagem proporciona uma base sólida para a investigação e o diálogo contínuo entre a Psicologia e a Religião, enriquecendo nosso entendimento da natureza humana e da experiência religiosa.

Psi. Alessander Capalbo

Psicanalista e Psicólogo Clínico

Quem sou:

 

Nasceu em 1974 na cidade de Jaboticabal - SP

Ingressou no Seminário Missionário da Arquidiocese de Brasília 02/01/1993

– Ordenado Diácono pela pelo Cardeal Dom José Freire Falcão 02/02/2000

– Foi Ordenado Sacerdote por Cardeal Dom José Freire Falcão 2002 – 2002

- Enviado a Roma para estudo em Teologia moral na “Reginna Apostolorum” 2002

– Pároco (Paróquia Santa Maria dos Pobres) Paranoá – DF 2004 – 2009

– Professor no Seminário Missionário de Brasília (Ministrava Teologia Moral) 2007

- Nomeado Vigário Episcopal de Brasília 2010

– Recebeu o Título de Cidadão Honorário de Brasília – Câmara Distrital de Brasília 2010

– Nomeado Diretor da Rádio Maria do Brasil 2012

– Pediu a suspensão para não exercer as Ordens do Ministério Sacerdotal (por motivos de querer constituir família) 2013

- Dom Sergio da Rocha concede a suspensão a pedido, porém sem motivos canônicos e nem moral. 

Pós Graduado em Ciências da Religião

 

Referencias:

 

  1. Religião, Espiritualidade e Saúde Mental:
  2. Psicologia da Religião:
    • Hood, R. W., Hill, P. C., & Spilka, B. (2009). The Psychology of Religion: An Empirical Approach. Guilford Press.
    • Paloutzian, R. F., & Park, C. L. (Eds.). (2014). Handbook of the Psychology of Religion and Spirituality. The Guilford Press.
  3. Laicidade e Psicologia:
    • Shafranske, E. P., & Malony, H. N. (Eds.). (1996). Religion and the Clinical Practice of Psychology. American Psychological Association.
    • Richards, P. S., & Bergin, A. E. (2005). Handbook of Psychotherapy and Religious Diversity. American Psychological Association.
  4. Personalidade e Religião:
    • Allport, G. W. (1950). The Individual and His Religion. The Macmillan Company.
    • Batson, C. D., Schoenrade, P., & Ventis, W. L. (1993). Religion and the Individual: A Social-Psychological Perspective. Oxford University Press.

 

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